segunda-feira, maio 08, 2006

Megalómania Apostólica…

Ele há dias assim… há uns tempos atrás a folhear artigos á procura de material que valesse a pena realçar num post aqui no Alma Murtoseira, deparamo-nos com uma entrevista do Pároco do Bunheiro, Padre Filipe Coelho que no mínimo nos deixou perplexos.

As afirmações proferidas na dita entrevista tendem a criar a ideia de que o Bunheiro não é parte integrante da Murtosa, que o Bunheiro é um mundo á parte da restante orgância do concelho e tudo isto porque o dito apóstolo celestial, por razões mais ou menos claras, mais ou menos justificadas não consegue ver avançar um projecto, que de sua própria voz afirma estar orçado em valores nunca inferiores a 200 mil contos ( cerca de 1 Milhão de Euros ), trata-se de um Museu de Arte Sacra e a respectiva residência paroquial e zona envolvente…

Mas nada como as palavras do próprio para descrever a obra em questão :

“O projecto que está em mãos é um conjunto que descrevo como sendo a sala de visitas do Bunheiro, no qual se englobam a Capela de S. Gonçalo, a Igreja, que foi restaurada, a fonte de S. Gonçalo e onde queremos construir um espaço enorme de jardinagem, um centro de convívio em que as pessoas vão estar e, nesse espaço de convívio, estará aquilo que é um desafio para a comunidade — o museu de arte sacra e a residência paroquial”- diz o Padre Filipe Coelho, que mais adiante na entrevista esclarece :

“A residência paroquial está metida no próprio museu de arte sacra,é um projecto de grande envergadura é de facto, tanto assim que nós, por cálculos do arquitecto, não gastaremos menos de 200 mil contos.”


Esclarecida que está a obra, passamos ao porquê de a mesma ainda não ter saído do papel :

“Há entraves: a Câmara Municipal da Murtosa, nomeadamente na pessoa do seu presidente — e posso dizer que não é a Câmara, mas a pessoa do seu Presidente — pura e simplesmente está a entravar, está a adiar o licenciamento desta obra. Motivo justificado não há. Ainda há pouco tempo fui entrevistado por uma rádio local e eu digo que era uma ... teimosia do Presidente da Câmara. Para fazer o museu e a nova residência paroquial tem que, pura e simplesmente, ir abaixo uma antiga residência paroquial que não tem arte nenhuma, não tem, ao fim e ao cabo, arquitectura nenhuma; só por meros laços afectivos que alguns, nomeadamente o Presidente da Câmara, não querem que a residência vá abaixo, um edifício que os técnicos dizem ser impossível reconstruir. Ele, que é contra; como Presidente da Câmara, devia ajudar uma comunidade a crescer no seu investimento e pura e simplesmente está a adiar o licenciamento e a construção da obra”

… e continua…

“Embora ele diga que o projecto ainda não entrou na Câmara, o certo é que em Abril de 2001 entregámos em mão, um estudo prévio à Câmara Municipal. E temos tido tantas reuniões ... e a dada altura recebemos um ofício — depois de tanta espera e de exigirmos que se pronunciassem — em que o senhor Presidente da Câmara afirmou que o projecto desapareceu da Câmara; perdeu-se. E em fax da própria Câmara pede-se ao arquitecto um terceira via,entretanto o senhor Presidente afirmou que o projecto ainda não entrou na Câmara.”

…e como que num aparte:

“É que em Portugal temos que escrever um ofício. Quando entregamos em mão, pessoalmente, parece que não entra,isto é uma teimosia do senhor Presidente da Câmara.É que o museu de arte sacra não é um depósito de material sacro; é um centro cultural, porque no próprio museu vamos ter um anfiteatro para 150 pessoas sentadas. É que o concelho da Murtosa não existe uma sala dessas.Honra seja feita aos murtoseiros — e peço desculpa aos murtoseiros de outras paróquias e doutras freguesias — porquanto, de facto, o Bunheiro é que é o centro cultural, o centro artístico do próprio concelho da Murtosa.”

E como que frisando a sua afirmação anterior:

“Se formos ver onde estão as associações culturais, onde está, de facto, a cultura, o desporto é no Bunheiro, e quando uma comunidade cresce e avança e uma instituição, que é oficial, que é a Câmara, que devia dar o apoio e ser ela a oferecer o projecto, está a emperrá-lo algo está mal.Acresce que o arquitecto oferece o projecto e oferece até todo o espaço envolvente. E não é um arquitecto qualquer; é um arquitecto que dá aulas na Faculdade de Arquitectura.”

…Continuando…

“O senhor Presidente disse numa reunião, à frente de uma comissão de arte sacra e da minha pessoa, “os senhores arquitectos não percebem nada; quem percebe sou eu porque sou do Bunheiro".
“Perante uma afirmação destas ... já não se trata somente de uma teimosia, perante estes desabafos, estas situações e eu tenho aqui documentos, com datas, desde ofícios a reuniões, numa palavra, tudo eu quero dizer aos murtoseiros e em especial aos bunheirenses que não é por morrer uma andorinha que acaba a Primavera. Não é por gente que seja capaz de entravar, que seja capaz de adiar, que seja capaz de, ao fim e a cabo, quase querer acabar com uma ideia, com um projecto, que de facto, as coisas acabam. “
“As coisas vão avançar e o apelo que eu faço a todos os bunheirenses — e já lá, em Portugal, temos pessoas generosas, que são capazes, na sua generosidade, de doar todo o dinheiro, são capazes até de dar peças de arte para o museu — peço, repito, aos bunheirenses que se unam num projecto que não é um projecto do padre Filipe, não é o projecto de um padre, é um projecto da comunidade do Bunheiro; é um projecto da Paróquia do Bunheiro. Mesmo contra a maré, queremos remar para bom porto. Acreditamos que este projecto é um projecto também de Deus, porque acreditamos que aquilo que é arte e mais ainda a arte do sagrado deve ser preservado, que deve ser acolhido, que deve ser mostrado, não só à comunidade do Bunheiro, mas às outras comunidades.É que há peças de arte que se estão a perder.”

Escalpelizando só algumas das afirmações mais dignas de registo do Padre Filipe :

a) - Já que tem intenção de patrocinar uma sala com 150 lugares, concerteza que deverá ter em mente o que fazer com a sala já existente no Bunheiro ( tenha ela mais ou menos que os ditos 150 Lugares ) já para não falar na sala de espectáculos emblemática do Concelho, a Casa dos Escuteiros. Voltamos á febre que assolou o concelho há uns anos atrás, só que nessa altura eram Pavilhões…

b) – O Bunheiro é o centro cultural, artístico e desportivo do Concelho? – Perante uma afirmação destas em primeiro lugar vamos solicitar á CMM que envie para a paróquia do Bunheiro um mapa do concelho, pelos vistos escapa-lhe onde fica a freguesia do Monte e só por isso é que se justifica o seu desconhecimento sobre os feitos desportivos da A.C.D.M. , dada a sua aparente ignorância geográfica do concelho, também lhe escapa os feitos desportivos do S.M.M. e se bem que Pardelhas não é freguesia (por enquanto) só o desconhecimento da sua localização justifica a sua ignorância sobre a integração concelhia de associações como “ Os Dragões da Murtosa “ e os Núcleos desportivos do Benfica e do Sporting… (e sobre o desporto acho que estamos conversados)
– Quanto á Cultura, pois…. A Murtosa têm um Orfeão (já teve dois) , o Festival da Canção da Murtosa …. não é realizado no Bunheiro por alguma razão, nem tão pouco as festas do S. Paio o são e em Pardelhas existe um grupo de teatro activo que recentemente levou á cena em Portugal e para a comunidade Murtoseira nos Estados Unidos a mais emblemática revista Murtoseira de que há memória…

Será que se justifica um investimento nunca inferior a cerca de 1 Milhão de Euros no Bunheiro?

Parece-nos bem que se avançe para um museu de arte sacra, se a paróquia do Bunheiro tem necessidade de uma residência paroquial, pois muito bem que faça como os restantes, que avancem para a sua construção, que mobiliem os Bunheirenses a contribuir agora tudo o resto advogado pelo distintíssimo padre é pura “Megalomania Apostólica”…

Que nos desculpem os Bunheirenses, mas sem qualquer desprimor pela representatividade do Bunheiro dentro da orgânica cultural e desportiva do concelho, mandem o vosso digníssimo padre tirar umas férias pois parece que ele bem precisa delas…


N.R.
As afirmações do Padre Filipe Coelho aqui reproduzidas foram retiradas duma sua entrevista ao Jornal “Luso Americano”

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Perdoem-me a minha ignorância... mas se calhar não entendi bem a questão.
A questão aqui não será a utilização dos erários públicos para a construção de um museu de arte sacra, mas apenas entraves burocráticos.
Se a minha afirmação está correcta, não somos ninguém para julgar o destino que o pároco pretende conferir aos seus fundos ou será que somos?
Deveríamos ficar preocupados se fossem desviados fundos de outros destinos para um projecto megalómano, agora se os fundos existem quem os angariou é livre de os direccionar para onde bem entende, ou será que não?
Bem sei que os destinos possam ser discutidos, e o que para mim é importante para outro pode não ser, mas são opções!!!
Gostariam que me conformassem se fui eu que entendi mal, e se é efectivamente isto que acontece

segunda-feira, 15 maio, 2006  
Blogger BB said...

Se visionarmos esta questão sob o ponto de vista de que com o meu dinheiro faço o que muito bem entender, então o leitor poderá ter razão, no entanto imagine que todas as paróquias do concelho optavam pela mesma bitola ou então que todos os municipes o faziam, gerava-se uma anarquia a todos so níveis.
Quiçá o excelso pároco deveria rever o enquadramento da obra que apregoa. Questão: Para que precisa o Bunheiro de mais uma sala para mais de 150 pessoas? O que fazer da que já exist enaquela freguesia?

No nosso entender tem que haver bomsenso em tudo o que se faz e não é só porque se angariou ou está em vias de angariar ( não sabemos ) o dinheiro necessário á realização da obra que a mesma poderá avançar.

terça-feira, 16 maio, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Concordo!
Mas por esse prisma parece-me que o executivo camarário não será ninguém para julgar, pois vejamos:
Para quê construir uma biblioteca municipal com uma sala de espectaculos / auditorio, se se pretende recuperar a actual sala existente (casa dos escuteiros)?
pior ainda se pensarmos que com a cosntrução de um novo edificio para a autarquia a construção de mais um auditório inserido será ponto assente!
Não sendo correcto viver em anarquia, aceito mais facilmente a utilização de dinheiros "privados" em duplicação de infraestruturas do que a utilização do erário público!!!
Isso sim é vergonhoso e goza com a cara de todos os munícipes

terça-feira, 16 maio, 2006  
Blogger BB said...

No que concerne a autorizações de construção e licenciamentos compete efectivamente á Câmara a sua aprovação ou não. É certo que partilho da opinião de que me termos culturais (e não só)parece existir uma dualidade de critérios, no entanto devemos sempre aprender com os erros do passado. No passado foi a febre dos pavilhões, cada qual achava-se com direito a ter um e maior e melhor que o do vizinho e depois deu no que deu, dinheiro mal gasto (seja publico ou não) e infraestruturas sem qualquer aproveitamento.

Cremos que o projecto do Padre Coelho para o Bunheiro se for racionalizado e imbutido de um pouco mais de bom senso, poderá efectivamente constutuir uma mais valia para a freguesia do Bunheiro. Agora, na nossa opinião, tal qual como ele o apresenta é uma Megalomania, seja com dinheiros publicos ou privados.

terça-feira, 16 maio, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O que me saltou à vista neste post não foi a separação do bunheiro da murtosa, uma vez que essa é evidente, tal como a murtosa profunda com o resto da murtosa e já agora da torreira com o resto do concelho. É natural que assim seja. Agora a arrogância, a incapacidade e a falta de visão estampada nas afirmações do nosso representante junto ao poder central é gritante e vergonhosa para todos os murtoseiros. Essa para mim é a grande impressão que fica.
P.S. Analisem as ultimas eleições e vejam onde ele obteve as maiores vitórias. No BUNHEIRO.
Têm que o aturar mais 4 anos assim, depois vem o seu fiel seguidor e no fim o museu já era... livrem-se dele por todos nós. Por Favor!!!
Um Murtoseiro de todos as freguesias

sexta-feira, 19 maio, 2006  
Blogger BB said...

Efectivamente é notório que algumas freguesias, muito impulsionado pelo bairrismo excessivo dos seus dirigentes locais, cultivam um certo distanciamento da orgânica do concelho da Murtosa e damos alguma razão quando cita os exemplos referidos em particular a Torreira...Agora quanto á postura do presidente da Câmara, só nos podemso remeter ao teor da entrevista dada, fora isso o certo é que ocupa o lugar por sufrágio universal e em democracia plena e confiante estas decisões são soberanas e terão que ser por todos aceite mesmo tendo "opinado" no boletim o contrário...
Muito se tem escrito pela blogosfera sobre o potencial do executivo camarário. Esperamos para ver se foi uma aposta bem sucedida a bem do concelho da Murtosa e não de partes dele ou se os Murtoseiros vão no final do mandato pagar uma factura elevada por incúria e incompetência...

sexta-feira, 19 maio, 2006  
Anonymous Anónimo said...

OFF TOPIC ....ai se o distanciamento da orgânica do concelho fosse causado pelo bairrismo excessivo dos seus dirigentes locais. Na torreira quem faz e desfaz é a CMM......para o bem e para o mal. o distanciamento é causado pela população que não renega as suas origens, mas está plenamemte consciente do concelho onde está inserida. Se fosse causado pelo bairrismo dos dirigentes, há muito que a lei dos baldios tinha sido aplicada...e aí as contas seriam outras. A "globalização" está aí, mas ninguém pode negar as assimetrias comportamentais das poluções das diferentes freguesias do concelho, pelo que é legitimo que cada freguesia, cada população sinta a sua freguesia, sinta a sua terra e talvez não se reveja no Concelho.

terça-feira, 23 maio, 2006  
Blogger BB said...

Não advogamos contra o bairrismo, mas sim contra o seu excesso que inevitavelmente conduz a situações de isolacionismo. O que muitas vezes vemos é que em sede própria e na altura própria os dirigentes locais pouco ou nada opinam muito em detrimento de estratégias politicas e quando voltam ás suas "sedes" é o habitual "Á que D'El Rei" e neste capítulo a Torreira até é exemplo perfeito disso ou seja de até que ponto um exacerbado e exagerado bairrismo pode conduzir a assimetrias e que nada tem a ver com baldios ou descampados, basta para tal ver as reais razões que estiveram por detrás da elevação a Vila...
Que REAIS mais valias teve a Torreira por esse facto? NENHUMAS!

quarta-feira, 24 maio, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Se bem entendi, não se trata de bairrismo exagerado por parte dos dirigentes locais da Torreira, trata-se isso sim de inépcia prepositada dos mesmos. E porquê? Talvez, e aí estamos de acordo, que é muito mais fácil, calar "em sede própria" e depois quando voltam ás suas "sedes" argumentam que a CMM "quer, pode e manda" e que não á nada a fazer!!!! - totalmente de acordo. É também um facto que a Torreira não teve qualquer mais valia real do facto de ser elevada a Vila, a não ser o facto de ser "Vila"...vaidade? talvez. Mas também se o foi elevada é porque preenchia os requesitos para o ser. Não teva mais valias mas também o Concelho não saiu prejudicado por isso.Pelo menos num ponto valeu a pena ser elevada a Vila: desapareceu aquele brasão de "Vila da Murtosa" no jardim no Largo 30 de Outubro; aqui assumo o meu bairrismo. Outros exemplos poderia enumerar onde se poderia manifestar o meu bairrismo,o meu e o de outros.Somos de facto um Concelho, gerido por pessoas que por clara maioria adquiriram essa legitimidade. De 4 em 4 anos fazem-se contas...

quarta-feira, 24 maio, 2006  
Blogger BB said...

Pouco há a argumentar contra este seu comentário. Concordo. E não pense que fujo a bairrismos... nada disso, acredito que antes de ir passear p'ro outro mundo ainda verei a minha Pardelhas elevada a freguesia... Todos nós temos os seu quê de bairrista e Eu não fujo a essa máxima, se bem que nunca me esqueço que acima de tudo sou MURTOSEIRO...
Quanto ao resto verdade seja dita... a cada 4 anos fazemos as contas.

Um bem haja pela sua participação.

quarta-feira, 24 maio, 2006  

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