A Vitória de Judas ?

A Judas foi dado um dos papéis mais ignóbeis da história do cristianismo, a do amigo traidor, aquele que a coberto do mais inocente dos gestos entregou o filho de DEUS nas mãos dos seus carrascos.
Judas traidor é a imagem que dois milénios depois do sucedido perdura e perdurará para todo o sempre. Por isso, tradicionalmente todos os anos por altura das celebrações da semana santa, no final das cerimónias de sábado aleluia onde é anunciada a ressurreição do salvador, Judas é queimado, expiando-se e redimindo-se assim o seu pecado.

Esta tradição da queima do judas, com mais ou menos nuances pendendo as tradições locais tornou-se um acto de folclore que extravasou o cariz religioso, tendo-se tornado habito que a queima fosse antecedida pela exposição do Judas, em local publico e acompanhado de seus desejos finais na manifesta forma de um testamento. Como habitualmente sucede, toda a tradição folclore acarreta uma enorme dose de boa vontade, disponibilidade em continuar com a tradição mas acima de tudo, particularmente com tradições deste género, uma enormíssima dose de boa disposição e divertimento.

Feitios…, cada qual é como cada um e cada um tem aquele que DEUS se incumbiu de lhe presentear, por isso podem ou não gostar do que lhes coube no testamento do Judas, podem ficar amuados ou
divertir-se com a sua quota parte da herança, agora seguramente nunca ofendidos, pois quando a coisa é feita sem maldade (e assim sempre o foi e sempre o deveria ser), uma brincadeira sã a ninguém ofende e a todos diverte, tal qual manda a tradição.

Infelizmente parece que há quem tenha alguma dificuldade em entender brincadeiras sãs e por ventura com um sentido de humor um pouco mais azedo, tenha decidido enquinar a tradição lá prós lados do centro concelho….
O caldo entornou já em 2007, com um Judas (a quem a coragem faltou ao(s) autore(s)para lhe dar justo fim) portador de um testamento ofensivo a pessoas cuja venerável idade no mínimo lhes guarnece o direito ao respeito incontestado de todos. O mal estar foi de facto geral na urbe tendo-se quase encetado uma pequena caça ás bruxas, infelizmente sem consequências (tanto quanto sabemos), pois a calada da noite tem estes benefícios…
Este ano voltaram á carga, novamente com um Judas, devidamente acorrentado ao supermercado de Pardelhas e “fundeado” com âncora e tudo, não fosse alguém decidir levar o coiso e dar-lhe o fim justo antes do tempo. Mais uma vez dos autores, nem vê-los… e como consequência desta falta de educação, respeito e civismo pelos outros, pela primeira vez em muitos anos desde que a memória nos permite recordar no centro da urbe não houve o habitual ajuntamento popular para ver o Judas levar a justa e devida recompensa pelo seu vil acto.

Foi pena que por causa de dois ou três energúmenos, uma tradição saudável vê a sua continuidade quiçá posta em causa, quão Judas traidor, os autores do coiso, a coberto de uma inocente tradição, resolveram cobardemente insultar e ofender terceiros sem respeito nem pudor, mas muito menos sem coragem.

Terá sido esta a vitória do Judas, que no fim vê a sua traição perpetuada nos actos cobardes de terceiros? Nós achamos, esperamos que não.
Gostaríamos de ver no próximo ano a tradição voltar ao que era e que no sábado aleluia se volte a ver no centro da urbe o habitual e tradicional ajuntamento popular celebrar tanto a ressurreição de Cristo como o fim merecido do Judas cujo fogo expiará a traição consumada.

Quanto ao(s) Judas... que descanse(m) em Paz na eterna misericórdia de DEUS que seguramente já lhe(s) perdoou a traição, quanto ao resto da populaça da urbe.... bem... esses 'tão mais p'ra um linchamento popular, pois afinal de contas sem queima não há expiação... pese embora um pedido de desculpas publico até que era capaz de resolver a coisa....